Pessoal,
Acho que este texto é bastante interessante como objeto de estudo, sobretudo de referenciação. Resolvi postá-lo no intuito de que possamos pensar em que tipos de considerações, do ponto de vista linguístico e cognitivo, poderíamos fazer a partir deste exemplo concreto de emprego da língua.
Até logo
É muito interessante perceber como diante deste texto somos levados a uma atividade cognitiva mais ou menos semelhante àquela por que passou o sujeito ao produzir este enunciado. Ao final de uma leitura, mesmo superficial ou ainda primária, sabemos que os documentos perdidos se encontravam numa carteira. Esta constatação está ligada á oscilação referencial que acontece no texto: o referente inicialmente introduzido são os documentos, porém, estes mesmos documentos, estariam guardados numa carteira e, na verdade, foi esta que se perdeu. Daí está justificada a oscilação da referência a documentos e o segundo referente que identificamos a partir da flexão verbal no feminino (perdida) que, somada ao nosso conhecimento enciclopédico de que documentos são, normalmente, guardados em carteiras, somos levados a identificar. O sujeito produtor do texto, talvez nem tenha percebido como o seu texto faz remissão a dois referentes, isto pode ser explicado pelo fato de que para o sujeito enunciador, naquela situação específica, cognitivamente tanto a carteira com os documentos constituem um mesmo referente, e a preocupação maior é a de reaver, neste caso, a carteira contendo os documentos.
ResponderExcluirCaros colegas, vocês acham que fui pelo caminho certo, ou falei besteira? Dialoguem com o meu texto também, viu?
Lourdilene, tua explicação faz todo o sentido. Realmente, esse "perdida" pode fazer pensar na carteira, o que é confirmado pelo plural "documentos":uma carteira geralmente possui vários documentos. É como se estivesse implícito o "conjunto" de documentos que é a carteira. Acho que seria o mesmo caso de "uma MULTIDÃO seguiu a procissão por SEREM muito religiosos", em que o verbo "serem" concorda com pessoas, implícito, mas inferível por causa do coletivo "multidão". O problema do exemplo da carteira é que o movimento não é do substantivo coletivo explícito para o substantivo no plural implícito, que facilitaria a inferência. Nesse caso, o que está implícito é justamente o "coletivo". Não sei se tá fazendo sentido essa minha aproximação de carteira com coletivo de documentos, mas me ajudou a pensar no caso....É como se fosse mais fácil pensar em "documentos" se "carteira" estivesse explícita e não o contrário. Entendem?
ResponderExcluirTalvez por isso, quando vi o exemplo não pensei de cara que "perdida" se referia a carteira. Na hora em que bati o olho e até agora a associação que faço é que quem perdeu a carteira foi uma menina. O feminino do adjetivo me fez procurar uma relação com o que tava mais próximo, no caso o nome da pessoa bem acima (acho que foi isso. Até quando fui chamar minha irmã pra ver o exemplo disse "Cássia, vem ver uma discussão aqui no site sobre um aviso de uma menina que perdeu os documentos". Não sei se estou viajando na maionese, mas tenho a nítida impressão de que a pessoa do aviso é do sexo feminino... É ou não é, Nilson?
Leila, na verdade foi uma pessoa do sexo masculino quem perdeu os documentos. Assim, a palavra “perdida” concorda mesmo é com carteira. Carteira? A pergunta, então, é onde está a bendita carteira? Não, não estou tentando reaver os documentos do rapaz, rsrs! Se a carteira não está no texto, ela está em nossa cabeça, não é? Mas quem a pós em nossas mentes? Foram as mãozinhas sagradas do fator social? Cadê a relaçãozinha que estava aqui na superfície? “O usuário (desatento) da língua comeu; um universitário!!”, diriam nossos amigos menos flexíveis. O que é interessante é pensar em como sabemos que esse “azinho” de “perdida” nos remete a carteira e não a qualquer outro objeto. É por isso que propus uma discussão a respeito da relação linguagem/cognição (não falei em sociedade porque concordo que é impossível pensar em linguagem e cognição desvinculadamente desta). É interessante pensar como língua e pensamento se relacionam, não é? Coisa de louco? Parece que nosso pensamento é meio... sei lá: eu penso em documento, ligo ao referente carteira; não falo “carteira”, meu coenunciador encontra este referente... Bem, de qualquer forma a coisa é bem mais complexa do que dizer que está tudo errado, tudo em desacordo com a norma. Estou começando a entender porque é fácil dizer “tá errado, menino, a gente não pode escrever como pensa, não!”. Linguagem é reflexo do pensamento? E o que é mesmo pensamento? Danou-se...
ResponderExcluirPois eu vi que era um texto do nilson ai já encarei como uma "pegadinha". E achei que "perdida" era a pessoa que perdeu seus documentos,rsrsrs. Então associei a pessoa, ou seja, a mulher que perdeu os domcumentos e nao a carteira que continha os documentos.
ResponderExcluirPoxa, Nilson! Destruiu minhas ilusões! kkkk Eu crente e iludida que era uma mulher...
ResponderExcluirMas falando sério, esse exemplo dá muito o que pensar, porque parece que esse tipo de coisa acontece mais na linguagem oral, em que não há aquele policiamento intenso para que tudo fique explícito e explicado (é mesmo, minha gente?). No caso da carteira, temos esse fato documentado! Interessante também que a maioria das pessoas que viram o exemplo encontraram o referente "carteira", sem problemas, como se estivesse muito óbvio!Eu é que fiquei devaneando... pra mim, seria mais difícil encontrar esse referente pelos motivos que expliquei na minha postagem anterior, mas depois que mostrei o exemplo para algumas pessoas e quase todas acharam a tal carteira, vi que minhas explicações foram por água abaixo (rsrsrs). Mas tenho que admitir: é até assustador imaginar que a palavra não foi dita em nenhum momento, mas que, pelas associações entre as informações do texto e o conhecimento de mundo (afinal, precisamos saber que quem perde documentos, possivelmente perdeu foi a carteira que os continha)quase todas as pessoas conseguem fazer a mesma inferência, rapidamente, sem nem saber o porquê disso! Parece papo de telepatia, né? (lá vai eu viajando de novo)
Nossa! adorei as discussões!
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ResponderExcluirOw, professor, valeu aí pelo apoio! kkkkkk
ResponderExcluirÉ né... pelo menos já sei que tem rumo a minha cisma de dizer que o referente de "perdida" é mulher. Freud explica!!!
Galera, parece que colocar textos no Cataphora é uma boa maneira de ficarmos de olhos abertos. Se as coisas continuarem assim, daqui a pouco cada postagem vai dar um artigo, vocês não acham? Na próxima postagem vou colocar alguma coisa que nos "futuque" pra falar de gênero. Mas antes tem que outro alguém postar alguma coisa, senão eu vou ser o chato, né?
ResponderExcluirAté
Nilson, tu ainda tá devendo o texto sobre os teóricos da linguística!
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