PASQUALE CIPRO NETO
A língua de Dunga
Conselho para Dunga: erre nos pronomes, nas concordâncias, mas não erre na mentalidade |
NA COPA de 98 (vencida pela França -o Brasil foi vice, lembra?), depois da derrota para a Noruega, o capitão Dunga deu uma entrevista em que afirmou: "Nossa língua é os pés. Não adianta ficar falando. Nosso negócio é jogar". No dia 2 de julho de 98, publiquei um texto nesta Folha em que discuti a questão da flexão do verbo "ser" escolhida por Dunga.
Repito a explicação sobre esse caso: com o verbo "ser" no singular, enfatiza-se o sujeito ("Nossa língua"); com a opção pelo plural, mais comum em casos como esse, a ênfase recai sobre o predicativo ("os pés"). Relembro como concluí o texto de 98: "Ao conjugar o verbo no singular -ato falho?-, Dunga mostrou que não acredita muito nos pés da moçada escalada por Zagallo".
Pois bem. O hoje técnico Dunga parece passar à sua moçada a mesma orientação. Dia desses, Robinho foi advertido por ter dado entrevista a uma emissora de TV durante uma folga. Quem fala mais agora é ele, Dunga, o chefe, que não usa mais os pés, mas a cabeça...
E a cabeça de Dunga volta e meia diz coisas totalmente dispensáveis. Veja-se o que disse (ou não disse) o técnico do Brasil sobre a ditadura e a escravidão: uma patacoada atrás da outra.
E sobre a bola? Como 99% dos boleiros brasucas, Dunga quase sempre diz o óbvio do óbvio do óbvio. Seu discurso é recheado de frases feitas, de chavões, y otras cositas más.
Agora, desde que recebeu algumas críticas por sua linguagem sofrível, Dunga meteu-se a demonstrar preocupação com o "vernáculo". Ontem, na entrevista coletiva, mais uma vez Dunga se corrigiu ao dizer "com nós", que trocou por "conosco". Em seguida, disse que o time perdeu "bastantes oportunidade". Exatamente assim: "bastantes oportunidade". Melhor não inventar, professor! Que "bastante" tem plural, isso lá é verdade, mas usar assim é outra história. Uma boa dica para não errar no uso de "bastante" é a seguinte: quando cabem as formas "muitos" e "muitas", cabe "bastantes" ("Os jogadores perderam muitas/bastantes oportunidades/ muitos/bastantes gols").
Quando se usam "muito" e "muita", cabe "bastante" ("Eles/Elas estavam muito/bastante calmos/calmas"). Quer um conselho, professor Dunga? Erre nos pronomes, erre nas concordâncias, mas não erre na mentalidade, na aversão ao novo etc. Já pensaram o que não teria feito Ganso ontem com os pobres patos norte-coreanos? É isso.
Que texto esquisito!! Primeiro, ele dá a entender que o importante é a mentalidade e não as regras gramaticais. Ao ver isso, eu pensei: "Opa! Será que é o mesmo Pasquale que eu conheço?". Era, era o mesmo. Depois lá vem ele analisando a expressão que o Dunga disse, "Nossa língua é os pés", de forma gramatical para, a partir disso, fazer uma suposição (pra mim, estapafúrdia) de que o Dunga não acreditava nos pés dos jogadores escalados por Zagallo. Mas de onde se pode inferir isso? Do inconsciente do Dunga ao proferir a frase? Eu, hein!
ResponderExcluirDetalhe para o momento preconceito: "Quem fala mais agora é ele, Dunga, o chefe, que não usa mais os pés, mas a cabeça...", quer dizer que quando era JOGADOR ele não usava a cabeça? Mas o que Dunga disse foi que a função do jogador como jogador é usar os pés, não ficar falando... Ele falou alguma coisa sobre jogador não ter que pensar? Eu não vi, vocês viram? O Pasquale parece que viu!
Outro momento preconceito: "Como 99% dos boleiros brasucas, Dunga quase sempre diz o óbvio do óbvio do óbvio". Mas me digam: profissão de jogador não é jogar? Pra jogar é preciso palestrar, fazer altos discursos? Do mesmo jeito que ofício de escritor é ensinar e ninguém exige que ele jogue bola bem! Acho que os jogadores falam o que tem pra ser dito, a profissão deles não consiste em fazer análises detalhadas sobre o futebol. Isso a gente deixa para os comentaristas. Adivinha qual a função dos comentaristas... E peraí! "Boleiros brasucas"??? Eu não me lembro de ter visto jogadores estrangeiros respondendo às perguntas de forma diferente da dos brasileiros... hummm... cheiro de preconceito forte no ar...
Depois, lá vem de novo uma análise gramatical do falar do Dunga, dando até dica de como usar direito o "bastante". Mas não era um texto sobre a importância da mentalidade? Ah, mas depois ele dá um conselho pro Dunga: "não erre na mentalidade, na aversão ao novo". E o Ganso, que até então não tinha entrado na história, surge como o motivo de todo esse texto! Como assim? Então a história da mentalidade se resumiu na não-escolha do Ganso? Ah, minha gente, contradição aí é só o que tem! Pasquale fala da importância da mentalidade, depois critica o falar do Dunga (isso tem a ver com mentalidade, ou inteligência?), faz umas suposições duvidosas sobre os motivos de certos usos da língua pelo Dunga, para no fim, no fim de tudo, reclamar sobre a ausência do Ganso na seleção??? Então se Ganso estivesse na seleção (ou qualquer jogador que representasse "o novo"), a mentalidade de Dunga seria irretocável??
Nesse texto, nem dá pra dizer que Pasquale defendeu a supremacia da mentalidade sobre os aspectos gramaticais, nem dá pra dizer o contrário... me parece mais um texto de torcedor revoltado, que acaba não discernindo muito bem as coisas e procura subsídios não sei de onde para defender um ponto de vista. No caso do Pasquale, ele parte das críticas gramaticais (será??), porque é mais a praia dele. É ISSO.
Get a real job, Pascoale.
ResponderExcluirDepois de ler o texto, ficamos mesmo nos perguntando: o que faz uma pessoa de bagagem cultural inquestionável como Pasquale publicar tanta idiotice de uma única vez? Durante toda a leitura, procurei encontrar um propósito plausível do autor com o seu texto... Me apegava mesmo à esperança (ainda que distante) de que ele não teria escrito o texto somente para reivindicar um uso 'vernáculo' do português para um técnico de seleção de futebol... E mais uma vez, lá estava nosso renomado e creditado professor Pasquale - que tanto contribui para a nossa cultura linguística - a morder a própria língua, falando o óbvio... Algo que, em certa altura do texto critica no técnico da seleção brasileira de futebol e nos jogadores de futebol.
ResponderExcluirAí veio minha tão maior decepção com o texto do nosso estimado professor Pasquale, o próposito era pior do que o que eu o tempo todo me apeguei à esperança que não fosse... Tudo aquilo era só para dizer que o Ganso seria um protagonista do jogo se Dunga o tivesse escalado.
Taí a preocupação do professor - que é compreensível (???). Como o restante dos brasileiros ele também escalou sua seleção de futebol para a Copa do Mundo de 2010. E como professor de gramática normativa de língua portuguesa que é, teve voz e vez de ir a público manifestar sua insatisfação...
Concordo plenamente com nossas nobres colegas, Leila e Lourdilene. Realmente, ele pisou na bola... Tomara que os ouvintes/leitores percebam isso nesse texto e em tantos outros q são tão contraditórios, preconceituosos, superficiais etc. como esse e passem a não dar tanto crédito a essas “correções” que ele tanto preza... Esse texto também é um ótimo exemplo para mostrar o quanto a língua é poderosa, pois o autor do texto “pretende” algo, mas implicitamente ele pretende outra coisa. No caso, ao criticar a linguagem do Dunga, o autor do texto implicitamente critica a convocação, isto é, não convocação do Ganso. Ou seja, por traz de um discurso, existem vários discursos e um deles é essa crítica à convocação. Por isso, ao nos depararmos com textos argumentativos devemos estar atentos a esses implícitos que o texto “esconde”, que perfeitamente minhas colegas mostraram e que cada leitor com uma visão mais critica pode perceber esses “discursos” por trás do texto.
ResponderExcluirpara quem se pretende um "douto" conhecedor da língua, acho que o Pasquale precisa estudar um bocado sobre variação linguística...
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